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O bode expiatório que a Uber quer

Muitos amigos têm me perguntado: Luiz, por que tantos motoristas de app estão rejeitando e cancelando minhas corridas? Por que está demorando para um motorista chegar? O que a StopClub tem a ver com isso?

Este post visa esclarecer essas questões, a razão do serviço da Uber estar pior do que antes e porque estão tentando colocar a StopClub como bode expiatório no meio disso.

Primeiro, é importante entender a diferença entre recusar e cancelar uma corrida.

Quando o passageiro solicita uma corrida a plataforma oferece esse trabalho para os motoristas na região que podem aceitar ou recusar essa oferta. 

A partir desse momento, quando um motorista recusa, a plataforma direciona essa oferta a outros motoristas sem que o passageiro tome conhecimento disso até que alguém aceite. Quando uma corrida passa a demorar para ser aceita, é sinal de que os motoristas na região devem estar recusando a oferta seja pelo valor, destino ou ambos.

Apenas quando um motorista aceita a corrida o passageiro então recebe a confirmação e passa a ver as informações do motorista, carro, distância e tempo até a chegada dele. 

O que tem se percebido é que, em alguns casos, depois de aceitar uma corrida os motoristas cancelam e a plataforma passa a tentar achar outro para fazer aquela viagem, que acaba demorando. Mas por que motoristas cancelam uma corrida logo depois de aceitar?

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Ocorre que os motoristas têm poucos segundos para decidir se aceitam ou recusam uma corrida, muitas vezes ainda terminando outra viagem com passageiros no carro. É difícil no meio do trânsito olhar para a tela do telefone e, em tão pouco tempo, fazer uma análise se aquela corrida é vantajosa. Então muitos aceitam no impulso e depois de analisar todos os detalhes percebem que aquela corrida não é interessante. Aí acontece o cancelamento. 

Mas então porque os motoristas não conseguem fazer uma análise melhor antes de aceitar a corrida?

Hoje em dia, os valores cobrados pelas corridas concorrem com o transporte público, sendo muitas vezes mais barato pegar um Uber dividindo com amigos do que andar de ônibus, por exemplo. A plataforma quer oferecer o preço ideal para captar mais passageiros, sendo competitiva com seus concorrentes e, claro, cobrar a maior taxa possível para aumentar sua receita. 

Que fique claro, não vejo problema algum que a Uber esteja buscando aumentar seu market share e receita. O problema é que, no contexto econômico atual, quem está sendo amassado para isso acontecer, é o motorista. 

Não é novidade que a inflação teve um impacto grande nos últimos anos, majorando preços de veículos, combustível e manutenção. Em muitos casos esse aumento de preços foi de 100%.

Por outro lado, a precificação da Uber nem de perto acompanhou esses aumentos e, do valor que os passageiros pagam, a Uber fica com 40% dele em média – só reduzindo essa taxa quando há alguma promoção. 

Ou seja, nessa relação entre passageiros, plataforma e motoristas, o tripé está completamente desequilibrado. E não estou aqui tentando vilanizar a Uber ou outras plataformas, mas apenas explicar e dar contexto ao que está acontecendo.

Na StopClub temos muitos dados sobre esse mercado porque oferecemos um aplicativo focado em motoristas e entregadores com diversas ferramentas gratuitas que ajudam esses trabalhadores a ter mais segurança e melhores resultados financeiros. Conhecemos profundamente essa população, suas dores e aspirações. São mais de meio milhão de usuários espalhados por mil e cem cidades no país. 

Na prática, quando o motorista está online e recebe uma oferta de corrida, ele tem entre 7 a 10 segundos para decidir se aceita ou recusa aquele trabalho. Esta oferta de corrida possui diversas informações cruciais para esta tomada de decisão, baseados principalmente no valor pago pela viagem, na nota do passageiro, nos endereços de origem e destino, no tempo e distância de cada um. 

Diferente de um táxi, que possui uma regra fixa de cobrança (tarifa base, valor por tempo e por distância), o valor de uma corrida para um motorista de aplicativo é variável. 

Antes, a Uber tinha uma tarifa fixa de 25%, mas isso foi alterado para um modelo que varia de acordo com a demanda e pode chegar até a 60%.

Portanto, o motorista não só deve, mas precisa ser diligente nas escolhas das corridas que aceita, pois muitas ofertas não são vantajosas economicamente. 

Um motorista recebe em média 100 ofertas de corridas por dia e não sabemos ao certo qual é a proporção de ofertas de corridas que dão prejuízo, pois não temos acesso a esses dados, mas existem motoristas que possuem taxas de aceitação menores que 3%, ou seja, recusam mais de 97% das corridas

Os motoristas foram obrigados a aprender a selecionar melhor suas viagens para recusar aquelas em que não tem ganho e o StopClub tem muita influência nisso. 

Lançamos uma ferramenta chamada Calculadora de Ganhos que lê as informações apresentadas pela Uber ao motorista quando surge uma oferta e calculamos para os motoristas quanto aquela corrida vai lhe pagar por quilômetro e por hora, exibindo essa informação na tela em números grandes e de fácil visão.

É bem simples, mas faz toda a diferença na vida desses profissionais - especialmente os iniciantes. Outra ferramenta que lançamos é a Recusa Automática que permite que o motorista determine quais os seus parâmetros mínimos de aceitação para recusar automaticamente as ofertas que ficarem abaixo do estipulado.

Essas ferramentas foram criadas porque hoje existe uma assimetria de informações entre a Uber e os motoristas. É interessante para a plataforma que os motoristas aceitem todas as corridas para melhor atender seus passageiros, mas não leva em consideração o custo de cada motorista, então oferece a mesma corrida para pessoas que podem ter custos operacionais completamente diferentes. 

Por exemplo, o custo de um motorista que tem um Toyota Corolla híbrido é muito diferente de outro que aluga um Nissan Sentra. Logo, o que é vantajoso para um, não necessariamente é para o outro.

O momento econômico geral e a falta de ajustes na precificação da Uber impõe que os motoristas saibam selecionar as corridas que são financeiramente viáveis.

O reflexo desse cenário é notável - motoristas não estão conseguindo mais fazer a manutenção dos seus carros como antes. Seja de forma intencional, por displicência ou apenas por focar unicamente em seus ganhos, a Uber está sucateando a própria frota e prejudicando a experiência dos passageiros.

Muitos motoristas já aprenderam a fazer essas contas de cabeça e essas duas ferramentas da StopClub apenas facilitam sua rotina de trabalho. Como se ele tivesse uma calculadora presa no painel do carro. O resultado é que motoristas gastam menos tempo olhando para o telefone para tomar uma decisão, trazendo mais segurança na direção.

Inclusive, essas ferramentas melhoram a questão dos cancelamentos, já que os motoristas com acesso a melhores informações só aceitam as corridas que realmente querem fazer.

Mas a Uber não gostou disso e resolveu ajuizar um processo no TJSP demandando que essas duas ferramentas fossem retiradas do nosso aplicativo alegando, em suma, que elas estão roubando e armazenando dados dos motoristas, dos passageiros e da precificação da Uber agindo em violação a LGPD e a livre concorrência. Também alegam que a Calculadora de Ganhos e a Recusa Automática estão interferindo o normal funcionamento do app Uber. Nada mais absurdo.

Primeiramente, os dados usados nessas duas ferramentas não são remetidos aos nossos servidores - eles ficam no telefone do usuário. Logo, é impossível seu armazenamento. Não há uma única linha de código que destine dados dessas duas ferramentas aos servidores da StopClub. Diga-se de passagem, as duas ferramentas têm código aberto, ou seja, qualquer pessoa com o mínimo de conhecimento de programação pode verificar o argumento mentiroso da Uber. 

Além disso, há uma clara confusão entre interação e interferência. Nossas ferramentas interagem com as informações apresentadas na tela do motorista para lhes dar mais clareza e permitir melhores decisões. Inclusive, as permissões do sistema Android que o motorista precisa dar para as ferramentas funcionarem chamam-se: permissão de acessibilidade e interação UI. 

Por esses motivos, estamos muito confiantes de que a verdade dos fatos vai prevalecer e que sairemos vencedores nesse processo calunioso. 

Nessa circunstância, é a Uber que busca interferir no direito do motorista de escolher suas corridas ao tentar vetar o uso de ferramentas que ajudam esses trabalhadores a fazer melhores escolhas.

A realidade é que a Uber tenta colocar a StopClub como bode expiatório alegando no processo que a insatisfação dos passageiros com a plataforma deles é decorrente das ferramentas que a StopClub oferece. Porém, essas ferramentas foram lançadas em março deste ano e a Uber já sofre com reclamações de passageiros há muito mais tempo.

No ano passado, por exemplo, a Uber foi multada pelo Procon-RJ em R$8MM por conta de reclamações de passageiros. Ou seja, muito antes do lançamento das duas ferramentas da StopClub. 

Então qual a real motivação da Uber para processar a StopClub? É simples: essas ferramentas mexem na sua comissão. 

Evidentemente, ela não quer perder mercado e nem oferecer uma experiência ruim ao passageiro, logo, não quer aumentar preços. A alternativa para aumentar a taxa de aceitação dos motoristas é cobrar uma comissão menor deles. Ou seja, os motoristas estão deixando de ser amassados e o tripé dessa relação está mais equilibrado. Ainda que isso tivesse um impacto no preço final das corridas, não é justo que os motoristas paguem do seu bolso para trabalhar.

Não criamos essas ferramentas porque queremos prejudicar a Uber, mas sim ajudar nossos usuários. Foi por demanda deles que desenvolvemos a Calculadora de Ganhos e a Recusa Automática e seguiremos trabalhando para eles mesmo que a Uber tente nos pintar de bode expiatório. Nossos usuários sabem a realidade dos fatos e agora você também.

Veja também:
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